segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Dores de alma



A minha menina mais velha hoje perguntou-me se eu também fico muito ansiosa em vésperas de fazer anos.
Disse-me que,  não sendo véspera ainda dos dela, já estava ansiosa...

Acha algo estranho que as crianças adorem fazer anos e os adultos não o sintam da mesma forma, e que não gostem de dizer a idade ou de festejar.....



O tempo passa por tudo e por todos.
E esta passagem traz conversas difíceis, das que me fazem doer a alma...

R - "Vou morrer no mesmo dia que tu mãe? Quem morre não volta não é? Quando eu for mãe tu já morreste?
I - A mamã vai ser avó R!!! Avó dos nossos filhos!
R - Mas vais ficar sempre com essa cara! Velinha não!
I - Oh mãe, vais querer pintar o cabelo, ou vais deixar branco?

Quando a vida segue a "ordem natural das coisas" parece-lhes mais fácil de entender.
Mas quando não é assim, levanta mais dúvidas, mais medos, mais "afinal como é?!"...
Quando desaparece aquela que é mãe de alguém próximo, assusta, porque as mães fazem falta, porque as mães são amigas, porque não imaginam uma criança sem mãe....

O difícil é quando percebem que todos somos finitos. E que afinal não há uma ordem.

A I, ainda em pequena e a lidar com as primeiras perdas costumava perguntar se havia filmes com a voz das pessoas, e fotos para que pudesse recordar para sempre, com medo de se esquecer....
A R perguntava se quem morre volta a crescer, ao que a I respondia "Oh R, não vês que se voltasse a crescer, quando chegasse aquela idade nós não existíamos"

Quanto aos destinos, já se falou em almas, em céu, para onde se vai, se as pessoas se escondem nas nuvens.....e chegam a questionar de tal forma que nos chegam a arrancar sorrisos, "Se as pessoas vão para o céu, porque não se vêem esqueletos a cair por aí!?!"

Em tempos idos, tivemos um peixe, que quando terminou os seus dias, acabou na sanita (na altura não me ocorreu dar-lhe um fim mais nobre, confesso), e a I concluiu: "Então a sanita é o céu dos peixes!"

Afinal, os pais não têm as resposta todas. Não sabem responder a tanta coisa.....

Prefiro fugir destas conversas....parece que por falarmos disso ainda traz algum azar....e dão-me dores de alma.

E quando a mais pequenita num dos adormeceres me diz:

"Não quero que tu morras. Prometes que vais ter cuidado?!",

fico a pensar ..... como se promete uma coisa destas?!


Só espero que sim! Que venha a ser avó, de brancas ou de cabelo pintado!






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