quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Dia Mundial da Luta Contra o Cancro


Ela perdeu a luta.
Uma luta que quase nem começou.

Ao telefone ouvi "Olha já sei o que tenho. É um cancro"
Respondi o que me veio à cabeça "Tás a gozar?!"
Não, não estava. Ninguém goza com isto.
Mas como qualquer outro telefonema dela, veio assim de chofre, sem qualquer introdução.
Não pude sair do sítio onde estava. Não fui a correr ter com ela.
Ela só queria abraçar-se a alguém, chorar e dizer que tinha medo de morrer.
E eu não fui.

Era junho. Foi internada.
Estava um bocadinho com ela sempre que conseguia.

Já tínhamos falado muitas vezes de sonhos. Dos que se adiam porque há outras prioridades. Dos que lá no fundo sabemos que nunca se vão realizar. Dos que ainda esperamos que se realizem.
Ouvi outra vez. Agora outros.
"Comprar uma mota.";" Pensar mais em mim"...
Concordei com tudo. Eu sei, tal como ela sabia, que pomos os outros sempre em primeiro.

Havia medos, incertezas, dores, desânimos.
Um dia falei dos meus problemas. Calei-me quando pensei para mim, o que é isto comparado com o que ela está a passar...Pedi-lhe desculpa. Respondeu: "Não faz mal, é para isso que servem os amigos."

Era verão. Tempo de férias. Ela só queria sair dali, como se quando saísse o cancro ficasse na cama do hospital sozinho a definhar.

Alguém disse que no meio do azar é preciso ter sorte.
Mas houve demasiados azares para que a sorte tivesse alguma oportunidade.

Veio mais uma cirurgia.
Queria dar-lhe um beijo antes de ir uma semana de férias.
Estava a dormir. Não a quis acordar.

Era setembro.
E foi a última vez que a vi.
Já passaram 3 anos inteiros.

Que todos os que lutam deixem o cancro a definhar sozinho.
Estou farta que ele ganhe.




Dia Mundial da Luta Contra o Cancro

1 comentário :

  1. eu conheço esse sentimentos. Já perdi amigos com esse doença. Também conheço quem o tenha vencido. Mesmo assim a vida é muito cruel. Bjs.

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