domingo, 31 de maio de 2015

Estudo nutritivo


Estudar pode dar fome.
Toda a gente sabe que estudar significa vezes sem conta levantar da cadeira, abrir a porta do frigorífico e ficar a olhar a tentar descobrir o que iremos comer de seguida.
Mas estudar Gastronomia Nacional e Regional pode ser complicado, quer pela variedade de pratos do nosso rico País quer pela abundância de termos novos.
Este estudo trouxe fome e muita gargalhada.

Começamos pela famosa "Caldeira" de Peixe, seguimos para o Norte com as "Franseninhas", e ainda houve barriga para uns feijões "Vrade".

Para a sobremesa tivemos uns fantásticos "Pasteis de nada".



E quanto à nossa "gegião" a R ficou indecisa entre a fruta e o conduto e apresentou uns "Morangos" com arroz.

Aqui sim, foi de rir e chorar por mais!!!!!


sábado, 30 de maio de 2015

Sai mais uma frase fresquinha!


3) "Se a senhora puser a embalagem aí no saco até passa na caixa sem pagar que eles nem dão conta"

Enquadramento:

Talho no interior de uma superfície comercial mas independente da mesma. (Nem sabia que isto existia).
O cuidado de separar a galinha caseira com ovos, da restante carne cortada para estufar. 
Tive que decidir logo ali na hora se queria a carne para estufar ou guisar. Era um senhor entendido.
Simpatia a acompanhar a oferta dos sacos de asas.
Pagamento ali ao balcão do talho.
Foi quando me apercebi que era um talho dentro dum supermercado. Tinha na mão uma couvete de bifes. 
Comentei então que aquela carne da couvete não era dali...
Bem constatado portanto...

E sai a frase!
Assim a instigar à criminalidade e na presença de menores.

(Há momentos com enquadramento mas sem possibilidade de foto!)
A galinha está neste momento em fase de canja.
E ... paguei os bifes na caixa.

sexta-feira, 29 de maio de 2015

Frases que ouço por aí....muito perto de mim.


2) "Nós não damos só cacetada, também sabemos ser simpáticos"

Enquadramento:

Jogo de alto risco quase dentro da porta.
Há uns 2 dias que se percebe pelas imediações do estádio que está algo de grande porte para acontecer.
Vejo 2 agentes em frente à escola.
Decido perguntar se irá ser cortado o trânsito mais tarde...em que ruas....a que horas...
Ainda não havia certezas porque dependeria do panorama geral....mas lá fui informada que se fosse preciso passar para explicar aos colegas agentes que ía à escola buscar a filhota e o remate final foi a frase supra citada.
E sim foram muito simpáticos.


quinta-feira, 28 de maio de 2015

Serei só eu?


Que sonho que já desliguei o despertador e que até já me estou a vestir, mas ainda nem saí da cama?

Que, por distração, mergulha o sushi na sopa de miso e não no molho de soja?

Que se engana e toma um comprimido 200mg e não de 1000mg e depois estranha que a dor de cabeça não passa?

Que descobre um monopólio embrulhado debaixo da cama e entretanto já comprou outro para oferecer?

Que se assusta com os manequins nas lojas chinesas (e noutras também!)?
(E não é que agora até os há ao ar livre?)

quarta-feira, 27 de maio de 2015

Frases que ouço por aí....muito perto de mim.


1) "Cada um traz para o jardim o que quer. Uns trazem os cães, outros as crianças!"

Dirigida a mim porque sugeri que uma senhora não deixasse no jardim vestígios dos caniches.
Ao que parece as crianças que brincam no jardim incomodam mais.
Há gente tão triste...


Vem de dentro.


A contagem decrescente para os dias de festa começa sempre uns meses antes e intensifica-se na última semana. Este ano foi tudo um bocadinho em cima da hora, incluindo a entrega dos convites.

A R faz alguma gestão na hora de convidar os amigos. Pensa quem vai brincar com quem, como  irá conseguir dividir a atenção por todos, principalmente pelos que não se conhecem entre si. É criteriosa na seleção e deixei de interferir (muito) na escolha.

A lista é uma fusão de antigos amigos, com os da escola, com vizinhos.

No meio das vontades próprias da idade de ter uma festa, um bolo especial e prendas, como é normal quando se faz 9 anos, é capaz de me surpreender quando menos espero.

Estava indecisa. Não sabia se devia convidar o menino X porque alguns rapazes depois iriam estar a gozar com ele.
Então fez uma coisa extraordinária. Mais uma de coração.

Disse-me que queria convidar o menino X. Nem sempre o convidam.
Para o convidar a ele deixou de fora outros. Os que costumam gozar com o menino X.
Pensou bem no assunto.
Ainda lhe disse que na festa ía correr bem, podia convidar que também estavam lá adultos e com certeza isso não ía acontecer.
Ponderou e decidiu.
É uma miúda de certezas.Teimosa qb. Dá luta na argumentação. As coisas tendem a ter que ser feitas à maneira dela. Lidera apesar de ser a mais pequena em altura. Nem sempre gosta de partilhar.
E talvez seja por este feitio rebuscado que nestes rasgos de forte personalidade me surpreenda pela positiva.

De manhã, a caminho da escola, com os convites na mão...
"Sabes mãe, estou muito feliz por ter decidido convidar o menino X".

Convidou o menino X. Disse-lhe que lhe dávamos boleia e que não queria prenda.
Deu-lhe o convite e ele disse que ela era a menina mais simpática de todas.
Ele perdeu o convite. Ela levou outro.
Não descansou enquanto não combinei tudo com a mãe dele.

Ao fim do dia ao ver as prendas que recebeu na festa comentou.
"Ele não levou prenda. Ainda bem que fez como eu lhe disse."

Naquele coraçãozinho está tudo lá.
Ela estava feliz pela decisão. Indiferente aos comentários. Segura da escolha.
Estou prestes a rebentar de orgulho.





terça-feira, 26 de maio de 2015

Flocos de neve é sempre que uma miúda quiser!


Em dia de festa há bolo!
E depois de ter feito um bolo de 3 andares o ano passado...sei que a R não me ía deixar arrepiar caminho. 3 andares era o mínimo!
Felizmente não se lembrou de pedir um andar por cada ano...
Houve muita indecisão sobre o tema. 
Ela não gosta de temas "óbvios" e na moda. 
Mas acabou por ficar alusivo ao Frozen mas em dia quente.
Com direito a flocos de neve e tudo!

A festa começou às 15h
O bolo ficou pronto às 14h45!
Repleto de brilhantes.
O bolo, nós e o carro!
Não saiu perfeito mas ficou lindo! 
Apesar dela ter participado na execução da obra ainda recebi umas críticas .... o Olaf não era ali, não queria os pauzinhos das pérolas, a árvore era em cima....a parte inferior não estava completamente tapada de brilho ofuscante....mas no fundo no fundo ficou como ela queria.

A tarde esteve quente para um dia de maio.
Deu direito a fato de banho e mudas de roupa.
E diversão pura!



Balões de água. Sucesso garantido!



Ela queria cantar os parabéns ali. 
Eu sugeri lá fora ou noutra mesa com mais luz. Ela queria ali.
Afinal até se costumam apagar as luzes, certo?
Ganhou!
A festa é dela.
 Mais uns Parabéns a muitas vozes.

(NOTA: Mãe que faz bolo de 3 andares pode esquecer-se das 9 velas que comprou a condizer com o azul frozen)



Um dia com muita animação ao ar livre.
Sapatos molhados e roupa a secar.

E afinal um bolo de 3 andares é uma ótima ideia!
A camada inferior ficou intacta para bolo na escola no dia seguinte. 

E no fim da festa estava tudo estafado...
Elsa inclusive.



Sábado, 23, dia de aniversário.


Há fins de semana a rebentar pelas costuras.
Este foi um deles.

Daqueles que se prolongam para 2ªf com restos de bolo.

Sábado, 23, foi dia de Parabéns!
Um dia delicioso.



Às 6h achou que era hora de acordar.
Felizmente consegui convencê-la a tentar dormir mais um bocadinho, na esperança que só visse os balões pendurados no teto umas horitas depois.
Acordou assim.

Foi dia de treino.
Parabéns acompanhados de pizza!



Mais uns parabéns com um "bolo" improvisado.
(Logo a seguir de um dedo escaldado numa vela)
 
Abraços especiais e espontâneos.

Uma prenda do século passado que se revelou um sucesso!


E foi num salto que chegou aos 9!


Passeio com uma grande amiga.

Um lanche especial.

Preparar a festa do dia seguinte.
Ajuda preciosa.


Esperar que o bolo coza em alegres cantorias.


Domingo há mais!

(Nestes dias 23 até nos passa ao lado que este dia já era nosso antes de passar a ser o dela.
Há 17 anos, também num sábado não imaginávamos que este dia viria a ser tão preenchido e festejado. Não me importo R, que o dia 23 de maio seja teu! 
Que tenhas vindo enchê-lo de brilho e azáfama!)

quinta-feira, 21 de maio de 2015

Dar o litro.


Estou de rastos.
Não de cansaço. Ou melhor, não só de cansaço.
De uma dor que não deixa respirar.
Dor de mãe.

Mais uma vez digo NÃO TENS CULPA!

Alguém tem com toda a certeza uma culpa do tamanho do mundo. Mas não és tu!
E eu tenho tanto medo de estar a fazer tudo mal.
Medo que afinal a culpa, longe de morrer solteira, seja afinal minha.
Medo de te baralhar ainda mais sempre que tento explicar o que quer que seja.
Medo da impotência de não saber como parar as lágrimas do teu desespero. Do teu medo. Medos.

Digo vezes sem conta "Está tudo bem!" e tu respondes "Mas tenho medo!"
É uma angústia que não se mede.
Uma dor que não desaparece, porque não posso fazer promessas.
Porque na verdade eu não sei se está tudo bem.

Passa da meia noite. A R adormeceu há pouco.
Mais uma vez os TPC´s ficaram a meio.
Outra matéria nova. Os meios litros e quartos de litro.
O querer fazer tudo até ao fim. Dar o litro.
Usei copos medidores e marcadores de acetato.
Faltava uma página. Já choravas e baralhavas tudo.
Sugeri deixar tudo como estava.

Chegaram vários medos, que a noite sempre agrava.
Medo do que a professora vai dizer porque não tens por hábito falhar.

Será que quem teve esta ideia iluminada de um programa a metro para crianças deste tamanho e tenra idade passa 1h30 a dizer aos filhos que não têm que ter medo, que está tudo bem, que podem dormir descansados, que não precisam de saber tudo de uma vez só?
Será que estes senhores se deitam sem pesos na consciência?
Será que pensam que é isto que fará destas crianças os grandes homens e mulheres do amanhã?
Será que não entendem a pressa com que os professores tem que andar com a matéria para  que cumpram um programa?

Senhores iluminados:
A R é uma miúda ativa, bem disposta, cheia de energia.
Está na escola até às 17h30.
Tem fisioterapia logo a seguir, não por opção.
Alguns dos fins de tarde ainda preenche com algo que adora, a ginástica.
Quase todos os dias tem TPC´s como sempre teve.
A diferença é que sempre os fez em 5 minutos, sempre os soube fazer.
Agora nem sempre consegue.
Sempre teve uma grande autoconfiança.
Sinto que a está a perder.
Anda nervosa. Triste. Insegura.

Chorou sem conseguir acalmar das 23h às 00h35!
Senhores das ideias iluminadas, sabem fazer contas?
Sabem quanto tempo de sono ela vai ter esta noite?
Não queria ouvir uma história, nem falar das várias hipóteses de bolo para o aniversário, nem ouvir uma música. Nada. E era isto que devíamos estar a fazer em vez de limpar lágrimas.

Estou cansada mas não consegui ir dormir.

Falta-lhe uma leva de testes.
Falta menos de um mês para acabar o ano.
Anda tudo cansado de dar o litro.
Está quase R!








domingo, 17 de maio de 2015

Pode estar tudo errado.


Cá em casa não castigamos as más notas. Ou as menos boas.
Aliás...o que é uma boa nota? Mais de 90%, mais de 80%? Um 5 na pauta? Ou um 4 já é bom?
O que é má nota? Negativa? Menos de 70%?
Como se mede isto? Pela disciplina em causa?

Eu meço pelo grau de satisfação.
Não o meu.
Eu gostava que elas tivessem 100% a tudo, não para serem as melhores, mas para se sentirem felizes, ou para que muitas mais portas se abrissem (e já nem sei se acredito nisto) neste País estranho.

Meço pelo olhar delas.
Se ficarem indiferentes a uma nota menos boa talvez me deva preocupar.
Mas se elas próprias vierem para casa desiludidas, chateadas porque contavam com mais, irei eu castigá-las?
Não me parece. Acho suficiente castigo a própria da nota.

Felizmente, apesar das diferenças entre pai e mãe no que toca à educação das crianças, nisto estamos de acordo.

Há dias assisti a uma conversa em que uma mãe dizia "O teu pai vai-te matar quando souber que tiveste negativa!""Vais ficar sem telemóvel uma semana"...
A I ouviu também.
Grande parte da turma tinha sido corrida a notas baixas.
A I estava nessa parte. Aborrecida. Contava com mais.
A mesma mãe perguntou-lhe "O teu pai também te vai matar, não?"
E ela respondeu "Não. Vai dizer que para a próxima faço melhor..."

E sim, foi isso que o pai disse. E foi o que eu disse.
Não é o mesmo que ficar indiferente a uma negativa.
É saber que se há esforço, empenho, estudo, haverá alguém mais desiludida que ela própria....precisará de ameaças?

E sim, ela fez melhor no teste seguinte.

Esta semana recebi um sms.
Uma nota não foi o que esperava, apesar de ter consciência que não tinha corrido muito bem.
Só vi um par de horas depois.

Mais tarde ao contar as peripécias do dia incluiu que tinha recebido a nota de outra disciplina, mas avançou para outras histórias.
"Então e que nota tiveste a essa?"
Tinha tido boa nota mas esqueceu-se de dizer.

Fico feliz que se sinta confiante para dizer que teve negativa ou uma nota menos boa, que não tenha medo da reação dos pais, que conte mais depressa isso do que um Muito bom. Que em nós encontre o apoio e a compreensão.

Podemos estar completamente errados.
Mas nisto da parentalidade não há períodos experimentais nem pré-visualização do resultado.
"Prognósticos só no fim do jogo".
Pode ser um risco, mas é assumido.

Hoje não lhe apetece lá muito estudar. A irmã está a brincar com uma amiga. O dia convida.
O calor traz alguma inércia. É fim de semana. Domingo devia ser mesmo dia de descanso.

Foi fazer panquecas para a irmã. Eu deixei.
É o quarto de hora académico.
O chá das princesas está quase pronto.




sexta-feira, 15 de maio de 2015

Família

Somos 4.
3 do sexo feminino: 1 pré adolescente, 1 senhora do seu nariz, 1 mãe KO.
1 do sexo masculino à beira de um ataque de nervos com este mulherio.
E a somar, um Porquinho da Índia. O 1º a manifestar-se de manhã para comer.

Há dias com a casa desarrumada, roupa por passar, casacos pendurados nas costas das cadeiras.
Não temos horários fixos para jantar por causa das horas fixas das atividades. Das que já existem no calendário e das que aparecem sem aviso prévio. Há semanas com fisioterapia para as duas, outras só para uma, ora todos os dias, ora em dias alternados. Juntam-se tardes de dentista
Raramente deixo alguma coisa a descongelar para o jantar.
Não consigo pensar no jantar se ainda nem almocei.

Há dias em que todos falam ao mesmo tempo.
Há momentos, embora raros, com demasiado silêncio.
Há refeições caóticas.
Há outras mais leves com petiscos e gin, ainda que com baldes de nutella por perto.
Há demasiado espaço e de repente espaço nenhum.
Começa-se um jogo de tabuleiro e depois instala-se a desordem.
Outras vezes falta a vontade para jogar.

Felizmente agora temos vizinhos com crianças. Assim não somos os únicos barulhentos do prédio.
Temos também vizinhos estudantes e ontem à noite até se ouvia kizomba vindo da casa ao lado.
Abençoados!

Ser uma família é diferente de ter uma família.
É saber que nem é tudo perfeito, mas afinal talvez seja.

É pensar no plural.
É ter sempre o coração preenchido.
É receber abraços enquanto descasco batatas.
É ouvir "Estás bem, mãe?" quando dou um grito depois de estraçalhar um dedo na porta do congelador. Peço um penso rápido enquanto embrulho o dedo num lenço de papel dobradinho com carinho que me trouxe a R. Afinal não há. Como não há pensos rápidos? Ainda ontem vi a caixa.
Pois....mas está vazia.
Ser família é saber viver com os hábitos uns dos outros. Por muito irritantes que sejam.
Caixas vazias nos armários é algo que não compreendo. Faz-me lembrar a 1ª temporada do Big Brother (sim eu vi!) e a grande discussão gerada em torno de uma pacote de bolachas vazio deixado num armário. Compreendo. É que uma pessoa vai a contar com aquilo e depois nicles....é bem pior do que não ver a caixa!

Nem tudo é um mar de rosas.
Mas é um mar!
Afinal o que é isso do mar de rosas?!?
Eu cá gosto da mudança das marés, dos dias de mar calmo e das marés vivas.
Quem viveu junto ao mar sabe que há sempre 7 ondas maiores e depois um período de acalmia. Lembro-me de as contar para saber quando podia dar um mergulho. Ainda hoje o faço.

Ser família é isto.
Momentos agitados, seguidos de acalmias.
Somos uma família. Hoje e todos os dias.


quarta-feira, 13 de maio de 2015

Efeitos da globalização


Há uns anos, quando me candidatei a mestrado a pergunta para seleção dos candidatos era sobre quais seriam os efeitos da globalização. Algo assim, do que me lembro. Na altura ainda era quase uma palavrão. Já sou velhota.

Estava longe de imaginar que a globalização ía mudar o nome da Anita.
A menina mais famosa da minha infância, logo a seguir à Heidi, tem como nome original Martine.

E pelos vistos para que assim seja reconhecida no mundo de forma igual vai ser Martine para todos. (Não bastaria ser reconhecida pelas ilustrações?!?)
Teremos Martine mamã, Martine vai às compras, Martine na escola de vela, etc...
Cá para mim o nome Martine só tem piada lido em francês....mas assim já não estaríamos a globalizar....

Tenho os meus livros da Anita, as minhas filhas têm os delas.
Vão-se juntando todos na mesma prateleira.
É uma coleção intergeracional.

Hoje, em dia de des(acordos) "Uma facada no coração da nostalgia" ....é isso...
O que mais irá mudar?!?!






segunda-feira, 11 de maio de 2015

Não tens culpa.


Acho que começo a entender melhor o problema da costura das meias, os cansaços e os momentos a atirar para o drama.

Tu não tens culpa R.
De não saber bem o lugar das vírgulas.
De não entender que os zeros à esquerda às vezes contam e que os zeros à direita podem não ter importância nenhuma.
De que não podes juntar decímetros com metros ou de que os números têm quadrados.
Que tenhas que entender como funciona uma alavanca, uma roldana ou o elástico de uma fisga sem nunca os teres visto, sem testar quando se faz mais ou menos força....mesmo que não seja a atirar pedras aos pardais.
De seda ser com s e cetim com c, mesmo sendo ambos tecidos.
De locomoção ter apenas o´s e comunicação ter um u.
Tu não tens culpa R.
Tu tens 8 anos.

Tu não tens culpa de ter medo porque não percebes a matéria toda.
Não tens culpa que a tua professora tenha um programa para cumprir, mesmo que não concorde com ele.
Demasiado longo para os teus 8 anos. Os teus e os dos teus mais de 20 colegas de turma.
De não haver tempo. Nem espaço. Nem lugar.
Dos crescidos andarem ocupados.

Não tens culpa da responsabilidade que te pesa mais do que a mochila.
De te assustares com os avisos de que é preciso trabalhar mais.
Do ano te parecer tão comprido que já penses que ainda não tiraram a fotografia do ano.

Percebo que não consigas ficar quieta na cadeira.
Percebo que seja difícil ter um colega na mesma carteira e nunca lhe falar, nem que seja baixinho.
Percebo que não queiras um livro de fichas para as férias.
Percebo que queiras entender. Que não queiras levar tudo feito só por fazer. E isso é a parte boa.
Boa se for porque entendes o que é um compromisso, a importância de uma tarefa concluída.
Assusta-me pensar que é por medo.

Ontem não conseguiste acabar o TPC. Porque te ocupamos o fim de semana.
Porque foste ver uma regata de remo e ler à beira rio. Porque foste ver uma passagem de modelos e saltar nos insufláveis. Porque escolheste um colar que uma senhora simpática te quis oferecer. Porque fomos ver o pai e a mana em equipa a fazer uma prova. Porque fomos à praia aproveitar o sol. Porque deste o 1º mergulho do ano. Porque fomos comer um gelado. Porque foste andar de bicicleta. Porque pintaste com giz o chão do passeio. Porque tomaste um banho e foi preciso escovar os teus lindos caracóis. Porque era tarde quando os começaste...porque estavas cansada. 
Repeti vezes sem conta "Está tudo bem" "Vais ver que amanhã não te parece assim tão grave"; "Não faz mal"; Tem calma"; "Vamos descansar"; "Está tudo bem"
Repeti para ela.
Repeti para mim.

Não tens culpa de não conseguir dormir porque não consegues parar de chorar.
Não tens culpa de não deixarem que te borrifes para o sistema mas que o sistema se esteja a borrifar para ti.
Não estará na altura das crianças darem passos do tamanho das pernas?


quinta-feira, 7 de maio de 2015

Porto, cidade.

Antes do concerto no Coliseu demos uma volta ali pelas redondezas.
Nunca a I tinha andando pelas ruas do Porto e pareceu-lhe Espanha.
Descemos a 31 de Janeiro. Subimos os Aliados.
Afinavam-se acordes para a serenata da Universidade do Porto.
Percorremos a Rua Sta Catarina mais umas quantas transversais.
Havia fila à porta do Majestic. Um porteiro ditava a entrada e a distribuição pelas mesas.
Não sei se foi sempre assim, mas a ideia de lá tomar um cafezito ficou de parte.
Talvez tenha ficado mais famoso depois do Abrunhosa o pôr numa música.

Voltei na memória ao tempo que atravessava a St. Catarina de saco às costas, para mudar do comboio na Trindade para o expresso da rodoviária na Batalha, que me levava a Coimbra.
Aos domingos neste sentido, às sextas no sentido inverso.
Continua uma rua à pinha. Movimentada e animada.
Passamos pelo Via Catarina, o que deu logo lugar a um problema de comunicação.
Comentei que podíamos comer qualquer coisa no Via Catarina...
-"Viste a Catarina? Qual Catarina? Onde?"

Coisas do nosso Português.

Uma das coisas boas do Porto é que me tratam por "menina", com um sotaque banhado a simpatia. Quer seja a senhora que vende gelados, a que vende águas e chocolates no concerto, o senhor que me informa à janela do carro onde fica o Coliseu, os empregados da casa das bifanas, e até o arrumador! A este nem me importei de dar uma moeda pelas informações preciosas que me deu, para além do "menina".
Desde pequena que herdo facilmente os sotaques, pelo que começo logo a ser "da casa" e a adquirir um bocadinho da pronúncia do Norte.

O Porto sempre esteve na minha vida, nem que fosse porque em todos os formulários preenchia o campo do "Distrito"com ele.
Foi lá que fiz as provas específicas, cada uma em seu edifício e que me candidatei à universidade.
Disse a frase dum filme "siga aquele táxi" quando fomos às dezenas ver os resultados à Faculdade de Economia, que na altura ainda tinha amianto...Foi lá que soube que fui colocada e que telefonei de uma cabine para dar a notícia à minha mãe.
Fui caloira da Faculdade de Ciências por uns dias, talvez uma semana.
Era Janeiro quando decidimos num banco de jardim o dia em que íamos casar.
Comprei o vestido na Rua 31 de Janeiro.

Por outro lado não conheço o Porto à noite.
Demorei muitos anos a ir à Ribeira, apesar de a ver de cima, da ponte, todas as semanas.

Desta vez, depois do concerto comemos bifanas. Passava da meia noite.
Corremos para fugir da chuva.
Ainda ouvimos uns acordes com cheiro a Coimbra vindos dos Aliados.
Reparamos na agitação das ruas, nos restaurantes abertos e em alguns sem abrigo que dormiam ao relento, indiferentes ao reboliço de noite de festa.

Algures havia um cartaz com coisas e pessoas que fazem parte da história da cidade.
"Mãe o que são tripas?

E tripas são tripas.
Adoro tripas à moda do Porto.
Adoro francesinhas.
Adoro o sotaque.
Adoro o "menina".
Adoro a Ribeira.
Adoro a Cedofeita e a Stª Catarina.

E ainda me falta conhecer umas quantas (tantas) coisas.
E mostrá-las às meninas.

Nisto tudo do Porto, só fujo do azul...
....azul no Porto, só mesmo o do céu e dos azulejos de S. Bento!


quarta-feira, 6 de maio de 2015

A duas


Fui a um concerto com a I.
Sim, é isso.
Ela não foi comigo a um concerto.
Eu fui com ela.
É fã dos Expensive Soul desde os tempos do "Amor é mágico".
E ficou. E com ela ficamos nós também.
Adoramos cantarolar as músicas no carro. Ela tem o último CD. Sabe muitas letras de cor.
Quando vi que o grupo ía tocar num coliseu, comprei os bilhetes e dei-lhe de prenda de Natal.

Quase 5 meses depois, chegou o dia.
Acompanhei-a com o receio de ser a mais velha no concerto. Eu. A cota.
Partilhei com ela este receio. Afinal não era eu a mais velha nem ela era a mais nova.
Tínhamos lugares sentados na tribuna.
Ela talvez escolhesse os lugares em pé na plateia ou a emoção da 1ª fila.

Depois achei que ela talvez preferisse estar ali com as amigas...
Quanto a este pensamento não lhe perguntei. Não seria justo perguntar...
Não se pode colocar numa balança a mãe e as amigas. Não depois dos 12 anos.
Ainda assim aquele foi o nosso momento. Mais um dos MFU´s - Momentos de filha única.
Quantos mais destes existirão?

Fiquei com ela só para mim.
Ela ficou comigo só para ela.
Que bem que nos soube!